Daqui da minha janela aberta, vejo os raios de sol entrarem, já não tão fortes, e invadirem a sala que não precisa mais de iluminação artificial. Daqui vejo as árvores na rua balançando ao ritmo ditado pelo vento. Daqui vejo os indivíduos caminhando, esvoaçando, pela primeira vez no ano, suas mantas e lenços enroladas no pescoço. Daqui sinto inveja, pois gostaria de estar na rua, caminhando assim distraída e sem rumo, por cima das folhas secas que já se adiantaram e caíram das árvores.
Ah, o outono! Não existe época melhor para mim em Porto Alegre do que o outono. Já dizia Carlos Drummond de Andrade “Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza“. Durante essa época é que chegamos em casa e tomamos aquele vinho tinto que estava guardadinho, só nos esperando para fazer conjunto com o queijo colonial e o salame. É no outono que paramos de ligar os ares condicionados e que tiramos do fundo do armário as roupas de manga comprida. Os dias começam a terminar mais rápido, dando espaço para uma noite mais comprida e fria. Dias ensolarados, ar friozinho, casacos de lã, botas, blazers, chocolates e folhas secas. É uma estação que nos faz sentir vivos, uma estação que nos faz ter vontade de ir para a rua, de aproveitar o dia de sol, de trabalhar com mais ânimo e tudo isso porque não temos mais o calor infernal que invadia a cidade semanas atrás.
Porto Alegre adora o outono e o outono faz bem a Porto Alegre. Trás de volta um vigor e uma vontade que a cidade havia perdido enquanto era verão. A estação que faz os porto alegrenses dormirem melhor, sem calor, sem mosquitos. A temporada de chocolate, de laranja, bergamota e outras comilanças está aberta. Época de comer sem se preocupar. Trocamos a cerveja pelo vinho, o gauchão pela libertadores, Atlântida por Gramado e a piscina por sofá e filme. Tomamos mais café, como bons brasileiros. Tomamos mais chimarrão, como bons gaúchos.
Talvez nenhuma outra capital compartilhe com Porto Alegre o desejo da vinda dessa estação. Nosso outono é charmoso e nos inspira, nos trás de volta, todos os anos, as tradições européias que nós ainda cultivamos como bons descendentes. O outono, mais do que uma estação de tons alaranjados, causa nos toda essa sensação de mudança de hábito explicada pelo clima e por nossa cultura. Se Carlos Drummond de Andrade tivesse conhecido Porto Alegre, diria que a alma da cidade é mais o outono.
Um comentário:
que legal laura, tu escreve coisas bonitas.
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