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18 agosto, 2009

Stephanie

Apenas eu e o coordenador fomos buscá-la no aeroporto, com toda a alegria que conseguíamos forjar em nossas faces naquele dia chuvoso. Além de nós, somente as duas hosts. Fiquei um tempo matutando se as pessoas não tinham tido interesse em Stephanie ou se ninguém mais havia ido à sua recepção devido ao recente recomeço das aulas. Quando vi ela saindo do portão de desembarque chorando, cheguei a pensar que os esforços que fiz para que ela chegasse tinham sido em vão.

Ela nunca foi do tipo que dá satisfação. Quero dizer, nosso principal meio de comunicação – ao menos, o que eu estava tentando manter como principal – eram emails, porém normalmente eu só conseguia minhas respostas por telefone. Sim, porque a Stephanie dificilmente respondia os emails, somente quando eu mandava uns três implorando um retorno. Dessa forma, o tanto o processo de match quanto o de reunir a documentação para o visto dela foram muito complicados e demorados. Tudo começou a ser pior quando o Fabio, da Pró-Ativa, descobriu meu telefone. Passei a ser cobrada não só pelos meus coordenadores da AIESEC como também da própria empresa.

A Pró-Ativa Consultoria Empresarial é a empresa na qual a Stephanie irá trabalhar a partir de sexta. Ela veio para cá através da AIESEC, sendo eu a responsável por trazê-la e fornecer todas as condições necessárias para que ela possa vir “direitinho”. Bom, eu acreditei ter feito, afinal ela chegou segunda-feira passada.

A "Miss Nadeau" tem 25 anos e um currículo de dar inveja. Ela veio de Halifax, NOva Scotia, embora tenha nascido em Quebec. Sempre percebi um nervosismo e medo de vir por parte dela, até porque ela nunca fez questão de responder. Eu nunca imaginaria que aquelas perguntas sobre o crime do Brasil e o craque em Porto Alegre era realmente sérias - na época imaginei que ela não iria dar muita bola para isso. Bem, ela chegou chorando e permaneceu chorando por alguns dias. Nem todos estão prontos para um intercâmbio num país completamente diferente, sabe?

Já vi, quando estava no Canadá, pessoas que não queriam estar lá estudando e tendo aquela experiência. Pessoas que não se sentem prontas a se desligarem dos pais, do trabalho, da faculdade, do(a) namorado(a), etc... Mas, refletindo bem, eu acho que é justamente esse tipo de pessoa que precisa de uma experiência assim! Que precisa desse choque cultural para aprender a lidar com situações difíceis sozinha. São pessoas que precisam adquirir uma certa independência e, literalmente, "se virar".

Hoje foi o primeiro dia de trabalho da Stephanie, e já fazem dois que eu não falo com ela. Ontem, pelo que sei, a host a levou de ônibus até a Pró-Ativa, para ensiná-la como chegar lá, e espero que tenha ocorrido tudo bem. O ambiente de trabalho deve ter deixado ela mais tranquila, fazendo com que ela comece uma rotina normal aqui no Brasil.

Eu lembro que no segundo dia ela teve muito medo de andar de ônibus, então tivemos que fazer tudo de carro... levei ela na empresa para a primeira reunião com o Fábio, e depois disso ela foi para a AIESEC com a coordenadora. Na volta, quando estávamos no carro, eu vi que ela parecia um pouco mais animada (provavelmente feliz por estar indo para casa de carro e não de ônibus, como eu havia dito anteriormente para ela), mas também com o senso de humor um pouco melhor... acho que o fato de ter encontrado mais pessoas, ter encontrado o Fábio, que foi bem gentil com ela, fez com que ela se sentisse um pouco mais bem-recebida. Mais acolhida.

A Stephanie nunca negou que está sofrendo por estar aqui. Ela sempre pede para que entendamos que é difícil ("hard"), que ela sente falta da mãe, do ex namorado, e que tem medo de estar aqui. Óbvio que é algo completamente compreensível e que ela vai ter que ser forte para enfrentar. Eu estou dizendo isso, mas no começo eu não compreendi e fiquei triste por ela não estar bem... quero dizer, não foi nada gratificante ver ela infeliz! Agora vejo que não é culpa minha nem de ninguém. Nem dela mesma. Isso é algo que ela vai ter que superar e no fim de tudo vai ver o quão forte e independente ela se tornou. Ela sabe disso, e me prometeu: "I know I will complete this experience! I promise I will stay here until the end... It's just.. It's hard in the beginning!"

Espero que ela esteja tendo um bom primeiro dia de trabalho. E espero também ter aprendido que nem sempre os intercambistas são abertos à mudanças e pare de sentir raiva deles no começo. Boa sorte Stephanie :)

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